Ordem do PCC que matou ex-delegado
também cobrava execução de promotor e diretor de presídio, diz Lincoln Gakiya
24/10/2025
(Foto: Reprodução) Promotor Lincoln Gakiya fala sobre operação que mira plano do PCC para matar autoridades em SP
A ordem do Primeiro Comando da Capital (PCC) para executar o ex-delegado Ruy Ferraz Fontes, morto a tiros em setembro, também cobrou os assassinatos do promotor Lincoln Gakyia e do coordenador dos presídios do interior do estado de São Paulo, Roberto Medina.
A afirmação é do próprio Lincoln nesta sexta-feira (24), em entrevista à GloboNews. "Faz parte de uma mesma ordem que infelizmente culminou com a morte do delegado Rui Fontes. Neste mesmo 'salve' havia ordens para me matar e matar o doutor Roberto Medina também", falou o promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MP-SP). "Tinha ordem para me matar e matar Medina também."
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"Salve" é o nome dado por criminosos às ordens da cúpula da fação para executarem missões, como, por exemplo, ataques contra agentes de segurança. As autoridades, por meio do trabalho de inteligência policial, interceptaram essas ordens.
Segundo Lincoln, o "salve" do Primeiro Comando da Capital para matar representantes do estado saiu das prisões e foi levada às ruas para serem executadas pelo grupo criminoso conhecido como "sintonia restrita". "São indivíduos de alta periculosidade".
"Informações de inteligência já mencionavam que havia ordens da cúpula do PCC inclusive dentro do sistema penitenciário federal. Não saem por telefone, saem através de visitas e muitas vezes através de advogados em conversas codificadas", completou o promotor.
Lincoln, principal representante do MP no combate às atividades criminosas do PCC no estado, falou que a descoberta do "salve" para matar Medina também foi encontrado no celular de um traficante de drogas preso em julho pela polícia na região de Presidente Prudente, onde Lincoln atua.
A análise do celular apreendido com Vitor Hugo da Silva, o VH, reforçou a participação dele num plano para matar o coordenador de presídios. Os investigadores encontraram, por exemplo, um minucioso levantamento sobre a rotina de Medina, com fotos e vídeos que mostram o trajeto percorrido diariamente por ele de casa até o trabalho.
"Extração de dados de celular de integrante do PCC da região de Presidente Prudente. Dados mostraram monitoramento de rotina do doutor Roberto Medina. Nos preocupou, prosseguimos com investigações, foram feitas outras prisões", disse Lincoln.
De acordo com Lincoln, o trabalho de inteligência das autoridades conseguiu identificar que os criminosos planejavam matá-lo também. E para isso usaram equipamentos para monitorar sua vida.
"Constatou-se que havia também o meu monitoramento, minha casa foi monitorada por drones, havia uma casa próxima do meu condomínio que foi usada como base para monitorar minha rotina. Foram encontrados prints com o trajeto que uso diariamente para me deslocar para o MP. E também para rotinas como academia, etc. Foi trabalho em conjunto com Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Penal e Gaeco", falou Lincoln.
Operação contra PCC
Gakiya: Plano para executar autoridades teve ordens de dentro de presídios
As declarações de Lincoln ocorrem após a operação conjunta do MP e da Polícia Civil de São Paulo, realizada na manhã desta sexta, para cumprir 25 mandados de busca e apreensão contra suspeitos de planejarem o assassinato do promotor e do coordenador de presídios, responsável por unidades prisionais da Região Oeste do estado.
Lincoln lembrou que dos três alvos da facção criminosa, somente ele tem escolta policial 24 horas por dia. "Das três autoridades, apenas eu estava com proteção de escolta. Dr. Roberto Medina não tinha proteção de escolta quando foram feitas essas imagens. Praticamente teve a vida salva por essa investigação", disse o promotor.
Ele também voltou a cobrar dos políticos que incluam o PCC na categoria de máfia e não mais facção para que as autoridades que as investigam possam ter direito a escolta policial. "Até quando terei essa proteção? Será que vou precisar, na minha aposentadoria, deixar o país? A gente precisa ter garantia, ferramentas adequadas", disse Lincoln, se referindo ao fato de que irá se aposentar um dia e, em tese, não contará mais com a escolta do estado.
O promotor de Justiça Lincoln Gakiya e do coordenador de presídios Roberto Medina, da Secretaria de Administração Penitenciária.
Montagem/g1/Reprodução/TV Globo
A Justiça determinou ainda a quebra dos sigilos telefônico e telemático dos suspeitos para que os investigadores possam apurar o envolvimento de mais pessoas no esquema.
Os mandados estão distribuídos nas cidades paulistas de Presidente Prudente (11), Álvares Machado (6), Martinópolis (2), Pirapozinho (2), Presidente Venceslau (2), Presidente Bernardes (1) e Santo Anastácio (1).
Em áudios, os bandidos falam sobre a preocupação de serem filmados nas imediações da casa de Roberto Medina.
Operação mira suspeitos de monitorar a rotina de autoridades
Divulgação
Segundo a polícia, o teor das conversas mantidas por Vitor Hugo e a ligação dele com o PCC mostram que partiu da facção a ordem para matar Gakyia e Medina.
A partir da prisão de VH, os investigadores chegaram até outro suspeito, Wellison Rodrigo Bispo de Almeida, o Corinthinha, também integrante do PCC.
Wellison foi preso no curso das investigações. Embora resida em Martinópolis, ele tinha alugado uma chácara a 53 quilômetros dali, em Presidente Bernardes. Wellison alegou que estava fugindo de um policial, que o ameaçou de morte. Mas os investigadores afirmam que estava ali a mando do PCC para seguir os passos de Roberto Medina.
Os policiais identificaram um terceiro suspeito de envolvimento no plano de atentado contra autoridades. Sérgio Garcia da Silva, o Messi, foi preso no dia 26 de setembro, por tráfico de drogas. Em um celular, encontrado debaixo de um travesseiro, havia conversas que indicavam o envolvimento dele no plano de assassinato de Medina e também do promotor de Justiça Lincoln Gakyia.
Também foram encontrados prints de telas com o trajeto que Gakyia costuma fazer de casa ao trabalho.
As investigações revelaram que suspeitos tinham alugado uma casa a menos de um quilômetro de condomínio onde o promotor mora. Imagens aéreas mostraram que diversas pessoas se reuniam nesta casa, que servia também como ponto de distribuição de droga.
Os investigadores suspeitam que os bandidos pretendiam atacar o promotor no caminho que ele costuma fazer para chegar ao trabalho, em Presidente Prudente.
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