Obra criou 'câmara de gás' em apartamento onde modelo e filha foram encontradas mortas no Rio, diz especialista
25/10/2025
(Foto: Reprodução) Perícia aponta que mãe e filha morreram intoxicadas por monóxido de carbono na Barra
Uma obra feita no apartamento onde morreram Lidiane Aline Lorenço, de 33 anos, e a filha dela, Miana Sophya Santos, de 15, transformou o local em uma espécie de "câmara de gás", segundo especialista ouvido pelo g1.
O engenheiro Jorge Olmar, presidente da Associação Brasileira de Organismos de Inspeção Acreditados de Sistemas de Gases Combustíveis e Eficiência Energética (Abraipe), explicou que a intervenção realizada falhou em direcionar os gases do apartamento para uma área externa.
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O resultado do laudo apontou que as vítimas morreram de intoxicação por monóxido de carbono.
O duto de exaustão do aquecedor a gás do apartamento, segundo o mesmo documento, terminava dentro da sala — quando deveria sair pela fachada. A unidade também não tinha feito a autovistoria dessas instalações.
"Praticamente criou uma câmara de gás. Se você deixa isso no ambiente, o monóxido de carbono é um dos mais letais. A absorção pelo organismo é muito rápida e intensa. Dependendo, em 15 minutos você dorme e em pouco tempo você morre", disse Jorge Olmar.
O engenheiro especialista em gás e eficiência energética reforçou o alerta para que a população não permita o acúmulo de monóxido de carbono em ambientes fechados.
"Ele se acumula no ambiente de forma silenciosa, por problemas de ventilação ou nos equipamentos, e causa esse tipo de tragédia. A inspeção periódica é fundamental. Se for em unidade multifamiliar, mais importante ainda", pontuou Olmar.
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O consultor e engenheiro Luis Felipe Boueri lembrou as regras para manutenção de aparelhos e de inspeção periódica de gás:
"A recomendação é fazer a manutenção no máximo a cada 2 anos. Eu acho que deveria ser anualmente, para ver se os aparelhos estão funcionando de forma adequada. E a cada 5 anos fazer a inspeção periódica de gás", afirmou ele.
Ventilação e exaustão comprometidas
Foto da perícia mostra saída de gás (no detalhe) pela sala
Reprodução
A TV Globo e o g1 apuraram que o imóvel, na Barra da Tijuca, Zona Sudoeste do Rio, passou por reformas que modificaram o projeto original e comprometeram a ventilação e a exaustão dos gases.
Em caso de reforma no apartamento, como no local onde Lidiane e Miana Sophya moravam, o consultor reforça que a reforma das instalações de equipamentos a gás precisam ser feitas por uma empresa idônea e confiável.
"Ela precisa oferecer os serviços através de um arquiteto ou engenheiro que esteja habilitado a emitir um documento chamado Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) sobre aquela obra ou instalação."
O delegado Neilson Nogueira, titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), afirmou que as investigações vão continuar para apurar a eventual responsabilidade pelo vazamento de monóxido de carbono no interior do apartamento.
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O que diz o laudo
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O laudo aponta que parte da varanda foi anexada à sala sem o prolongamento do duto de exaustão, o que fez com que a saída de gases do aquecedor ficasse voltada para o interior do imóvel.
Essas alterações favoreceram o acúmulo de CO em diferentes cômodos, incluindo quarto, banheiro e sala. O laudo destaca ainda que o imóvel tinha, originalmente, um boiler elétrico — e não a gás, como instalado atualmente.
As irregularidades na instalação de gás foram constatadas na última sexta-feira (17) no dia que a Polícia Civil fez uma perícia complementar no apartamento.
“O aquecedor estava instalado de forma completamente irregular e a saída de gás da chaminé é dentro do próprio apartamento”, contou o advogado da família, Rodrigo Moulin.
O g1 tenta contato com o proprietário do apartamento e com a administração do condomínio.
Lidiane Aline Lorenço e a filha, Miana Sophya Santos
Reprodução
O que diz a Naturgy
Em nota, a Naturgy disse lamentar o ocorrido.
“A companhia reforça que a empresa distribuidora de gás canalizado é responsável por levar o gás, por meio de redes, até o limite da propriedade dos consumidores. Assim como acontece nos demais serviços públicos, como água e luz, a manutenção de aparelhos como fogões e aquecedores e das instalações internas das residências é uma responsabilidade do consumidor”, explicou.
“As ramificações internas são de responsabilidade do proprietário, que deverá mantê-las em perfeito estado de conservação”, destacou.
Essa obrigação consta do Decreto Estadual 23.317/97 e da Lei Estadual 6.890/2014, que tratam da inspeção periódica de gás, a IPG, válida por 5 anos. No Rio de Janeiro, o prazo para adequação vai até 2026, escalonado por bairros.
Hoje, 43 empresas estão habilitadas pelo Inmetro para realização da inspeção e devem ser contratadas diretamente pelo cliente.