Auditoria do TCE aponta suspeita de crimes na gestão do RioPrevidência e alertava sobre riscos antes da prisão de Vorcaro, do Banco Master
26/11/2025
(Foto: Reprodução) Auditoria do TCE aponta suspeita de crimes na gestão do RioPrevidência e alertava sobre riscos antes da prisão de Vorcaro, do Banco Master
Auditoria do Tribunal de Contas do Estado (TCE) questiona as aplicações de R$ 970 milhões do Rioprevidência no Banco Master.
De acordo com o documento, o investimento aconteceu "de forma irregular, sem qualquer fundamentação e análise técnica por parte dos gestores".
O relatório alerta para a suspeita de práticas como gestão temerária, gestão fraudulenta e até mesmo corrupção. Antes mesmo da insolvência do Banco Master, o TCE avisava que se o Master quebrasse, como quebrou, o Rioprevidência poderia não conseguir recuperar o que foi investido.
Segundo a auditoria, a falta de diligência na implementação de um sistema de controle interno no Rioprevidência pode configurar improbidade administrativa, com multas, suspensão de direitos políticos e perda do cargo.
Após a análise, o TCE pediu que fossem notificados pela suspeita dos atos administrativos:
O diretor-presidente do Rioprevidência, Deivis Marcon Antunes;
Ex-diretor de Investimentos, Eucherio Lerner Rodrigues
Gerente de operações de investimentos, Pedro Pinheiro Guerra Leal
O caso será analisado pelo plenário do TCE. O relator é o conselheiro José Gomes Graciosa.
O documento do TCE é de abril de 2025. Sete meses antes da operação da Polícia Federal que prendeu o dono do banco, Daniel Vorcaro e executivos, e da liquidação do Master.
A PF investiga as ligações políticas do Master e busca entender o que estava por trás dos investimentos. Um dos crimes cometidos por Daniel Vorcaro, presidente do Master, seria a gestão temerária do fundo:
"Conclui-se que a aplicação neste fundo se deu de forma irregular e que trouxe prejuízos financeiros ao fundo e o submeteu a riscos desnecessários, configurando gestão temerária".
O TCE dizia que a aplicação do Rioprevidência em um fundo ligado ao Master trouxe prejuízos e o submeteu a riscos desnecessários o que configuraria gestão temerária.
Os auditores afirmam que a relação entre gestores do Fundo de Previdência e Instituições financeiras é um ponto sensível e, historicamente, vulnerável a esquemas de corrupção e pagamento de vantagens indevidas para direcionar investimentos.
As investigações sobre o Banco Master, de acordo com os auditores, podem lançar luz sobre como foram realizadas essas captações junto ao regime de previdência:
"A relação entre gestores de RPPS e instituições financeiras que oferecem produtos de alta rentabilidade é um ponto sensível e, historicamente, vulnerável a esquemas de corrupção e pagamento de vantagens indevidas para direcionar investimentos. As investigações sobre o Banco Master podem, eventualmente, lançar luz sobre como essas captações junto ao RPPS foram realizadas".
Os investimentos
A análise do TCE parte da conclusão de que a decisão de onde investir os bilhões do fundo eram centralizadas em pouquíssimos servidores do Rioprevidência.
De acordo com o documento, pelo segundo ano consecutivo, o regime próprio da Previdência Social do RJ opera por um longo período sem uma política que define as diretrizes de investimentos.
Sede do Rioprevidência
Divulgação
Para o TCE, o resultado disso é que o estado tem desequilíbrio previdenciário, precisando de recursos do Tesouro para cumprir suas obrigações:
"Analisando o sistema previdenciário como um todo, o ERJ possui desequilíbrio previdenciário, necessitando de recursos do Tesouro Estadual para cumprimento de suas obrigações com os benefícios pós-emprego"
De acordo com a análise, se o Banco Master vier a enfrentar um cenário de quebra, os regimes próprios de previdência social podem não conseguir recuperar o valor total investido.
"Qualquer perda financeira, segundo o levantamento, impactará diretamente o patrimônio dos fundos, pressionando as finanças dos entes públicos como municípios e estados, e dos próprios servidores, que podem enfrentar aumento de contribuições ou revisão de benefícios futuros"
Além dos R$ 970 milhões investidos diretamente no Master, mais de R$ 1,5 bilhão também foi aportado em fundos administrados pela corretora do banco de Daniel Vorcaro, o que totalizaria mais de R$ 2,6 bilhões.
O que dizem os envolvidos
O RioPrevidência informou que todos os investimentos realizados no Banco Master em 2023 e 2024 seguiram rigorosamente a legislação. Disse também que mantém contato direto com o Banco Central e com o próprio Master para buscar a melhor alternativa de recuperação dos créditos. O órgão afirma ainda que não houve gestão temerária e que todas as alegações feitas pelo TCE serão esclarecidas.
Procurado, o ex-diretor de investimentos do RioPrevidência, Euquério Lerner Rodrigues, não respondeu.
O Ministério Público afirmou que investiga indícios de irregularidades nos investimentos do RioPrevidência desde outubro do ano passado e que expediu recomendação ao governo estadual para adotar medidas de proteção ao patrimônio previdenciário.
O Governo do Estado também foi procurado, mas não respondeu.